Miró

 

 

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Miró Joan (1893, Barcelona - 1983, Palma)

Pintor e escultor catalão. Os primeiros desenhos datam de 1901. Em 1907 segue simultaneamente o curso da Escola de Comércio de Barcelona e o de desenho da Escola de Belas-Artes de Lonja. Empregado, em 1910, nos escritórios de uma loja, adoece no ano seguinte e restabelece-se na casa de campo adquirida pelos seus pais em Montroig - onde voltará, periodicamente, para "descer à terra", com a aspiração de, em seguida, "subir mais alto". Em 1912 inscreve-se na Escola de Arte de Galí, de ensino anti-académico, onde aprende a desenhar com os olhos vendados, pelo tacto, e pinta as suas primeiras telas. Começa a visitar exposições de arte moderna e torna-se bastante amigo de Joan Prats, Ràfols e Ricart. Em 1917 conhece Picabia, cuja 391 é então publicada em Barcelona. Demonstra, nos seus quadros, uma vontade descritiva tão pronunciada que torna quase irreal o motivo - as cores são vivas, a linha irregular (Nu em pé, 1918); "enamora-se" quer pelo mais pequeno pedaço de erva, quer pelas grandes massas montanhosas (El Campesino Catalán de la Guitarra, 1918). Miró realiza a sua primeira viagem a Paris em 1919. Conhece Picasso, visita o Louvre, mas não pinta. A partir do ano seguinte, começa a passar habitualmente o Verão em Montroig e o Inverno em Paris, onde se instala na rua Blomet, ao lado de Masson, e convive sobretudo com poetas: Tzara, Reverdy, Jacob, depois Desnos, Leiris, Artaud. Em 1923, A quinta, e sobretudo Terra lavrada, revelam, num espaço não realista produzido pela luz que se distribui pelas telas, uma capacidade de metamorfosear o real e de derivar para o imaginário onírico: cada um dos motivos afirma a sua autonomia, evoluindo para um determinado símbolo. Esta tendência acentua-se na Paysage catalan e no Le sourire de ma blonde - os fundos não têm nenhuma preocupação referencial e surge um "código" (olho, chama, pegadas, moluscos) que define o seu universo singularmente pessoal, produzido por transposição. É a época (até 1927) em que Miró se torna "a mais bela pluma do chapéu surrealista" (Breton), ainda que pouco interessado nos debates teóricos e preferindo a preparação da tela através de numerosos desenhos à pratica do automatismo (as "personagens" do El Carnaval de Arlequín são uma consequência das alucinações provocadas pela fome a que se sujeita). Cria "quadros-poema (Oh! un de ces messieurs qui a fait tout ça, 1925) e composições onde as formas de significação flutuante se misturam com figuras esquematizadas, retiradas de uma espécie de pictogramas, sobre fundos pintados (La sieste, 1925). Durante o Verão de 1927, em Montroig, realiza "paisagens" de grande dimensão - alguns símbolos do sol e de um animal (galo, coelho, serpente) são suficientes para instalar o "Miromundo" (P. Waldberg). No final da década de vinte, a visita de museus holandeses inspira algumas telas, cujo motivo é retirado de composições clássicas; personagens e objectos são modificados para obedecer à gramática formal e cromática de Miró (Interior Holandés). Seguem-se "retratos imaginários", aplicando os mesmos princípios (Portrait de Mrs Mills en 1750, 1929). Imediatamente a seguir, Miró afirma pretender "assassinar a pintura", com colagens e assemblages feitas em diversos materiais - dotados, simultaneamente, de agressividade e humor. Nos anos seguintes domina-o a inquietude, perante a situação de Espanha e, em 1936 parte por quatro anos. Em Paris, desenha o célebre cartaz Aidez l'Espagne e realiza, para o pavilhão espanhol da Exposição de 1937, uma grande pintura mural (El Segador). Em 1939 instala-se em Varengeville e aí encontra Braque, Calder e Queneau. É aí que realiza, em Janeiro de 1940, a admirável série de vinte e dois guaches, Constelaciones, de rara complexidade - serão acabados em Palma de Maiorca, em Setembro de 1941, e publicados em 1959, em pequeno número e com textos de Breton, na Galeria de P. Matisse. Reinstalado em Barcelona em 1942, Miró define a sua temática: a mulher e o pássaro dominam, rodeados de símbolos solares, estrelas, luas. As pinceladas de cor fundem-se, cercadas ou atravessadas por vigorosos traços negros. Progressivamente, o trabalho adquire uma notoriedade mundial - é conhecido não só pela pintura, mas também pela contínua criação noutros domínios - a partir de 1944, a execução em cerâmica com Artigas e, particularmente entre 1955 e 1959, assemblages com objectos de refugo onde reafirma a violência, esculturas de formas opulentas onde a dimensão extravagante conserva a sua ambiguidade. Mas a versão oficial, nas décadas do pós-guerra, é a de um Miró "infantil" e malicioso - a ponto de, na exposição no Grand Palais, na retrospectiva de 1974, ser criticado por querer recuperar com pouca despesa os truques deformados de uma vanguarda antiquada, ao afirmar a sua insubmissão e afastamento de formas antiquadas - incluindo as suas - através de grandes telas queimadas em que se apercebem as suas obras "clássicas". Para Miró, a arte nada tem de decorativo, considera-a uma batalha permanente de pesquisa de símbolos essenciais, densos, carregados de sentido e duráveis - como as marcas pré-históricas.