Magritte
René (1898, Lessines - 1967, Bruxelas)
Pintor belga. Os seus anos de infância são marcados pelas inúmeras mudanças
da sua família (a sua mãe arruína-se em 1912). Começa a pintar, num registo
impressionista, em 1915, antes mesmo de ir para as Belas-Artes de Bruxelas
(1916-1918), onde conhece Servranckx. Definitivamente instalado em Bruxelas em
1918, descobre o cubismo e o futurismo graças a P.-L. Flouquet, que lhe dá a
conhecer a vanguarda de Anvers. Conhece Mesens em 1920, contratado como
professor de piano do seu irmão Paul. Casa-se em 1922, desenha o mobiliário do
seu apartamento e trabalha sob a direcção de Servranckx como desenhador numa fábrica
de papel de decoração. A sua pintura, ainda marcada pelo cubismo e pelo
futurismo, evolui no sentido do purismo e da obra de Léger. Em 1923 expõe sete
telas numa exposição colectiva organizada pela revista Ça Ira, ao lado de
Joostens, Moholy-Nagy e Lissitzky. Ganha a vida na publicidade mas conhece os
dadaístas belgas e começa a colaborar nas suas publicações (Oesophage, Março
de 1925). É então surpreendido por Le chant d'amour de De Chirico, lê a
poesia surrealista e conhece Paul Nougé. Em 1926 pinta Le jockey perdu, que
considera a sua primeira obra surrealista acabada - um jóquei sai de uma
alameda ladeada por gigantescos peões de xadrez de onde escapam ramagens, mas
em primeiro plano um cortinado enquadra a cena; à escolha, uma representação
teatral ou um espectáculo apercebido através de uma janela. Todos os elementos
que Magritte utilizará de futuro estão já presentes nesta tela: não só os
objectos (jóquei, folhagens, peões, cortinados) e métodos predilectos
(representação em escalas variáveis sobre a mesma tela, troca de qualidades
entre os diferentes reinos) mas, antes de tudo, a concepção da pintura como
representação - estilisticamente a mais neutra ou "académica" possível
- do teatro do pensamento logo que este é "inspirado", isto é, capaz
de jogar com as aparências e o visível, proporcionando surpreendentes versões,
poéticas mas perturbadoras. Produzindo numerosas telas, que expõe na Galeria
Le Centaure de Bruxelas, é em 1927 (La clef des songes e La table, l'océan et
le fruit) que começa a explorar o desvio possível entre as coisas e a sua
designação, representando fielmente um objecto e acrescentando-lhe um nome que
não é o seu. Em 1928, quando está em Paris e participa nas actividades do
grupo surrealista francês, trabalha esta temática de forma mais
"abstracta", caligrafando somente as palavras em casos irregulares (Le
masque vide), antes de chegar à célebre trahison des images ("Ceci n'est
pas une pipe", sob a figuração de um cachimbo, 1929), de múltiplas
interpretações. Esta temática origina, por outro lado, a criação de
numerosas telas onde uma paisagem coincide com a sua representação num quadro
(ou nos estilhaços de uma vidraça partida). De regresso a Bruxelas, em 1930,
Magritte recorre durante algum tempo ao trabalho publicitário para sobreviver.
Continua contudo a sua obra, podendo doravante contar com o apoio, em textos,
prefácios ou conferências, dos seus amigos Nougé, P. Colinet e Scutenaire. Em
1934 o desenho Le viol ilustra a capa de Qu'est-ce que le surréalisme? de
Breton. Apesar de articular
novos objectos privilegiados (guizos, papéis cortados, canhão, imitação de
madeira, pessoas anónimas vestidas com casacos sóbrios mas de rostos imbecis),
a sua pintura não conhece evolução estilística notável até 1943.
Experimenta então, durante quatro anos, um "estilo Renoir", de modo a
conferir uma luminosidade mais sensual às imagens. Em 1946 afasta-se
momentaneamente, com os seus amigos belgas, do surrealismo parisiense; pretende
que a arte se torne, depois da guerra, optimista e uma actividade "de
prazer". Ensaia, em 1947-1948, uma nova variante estilística, praticando
um "estilo vache" - deformações e cores agressivas, busca de uma
"fealdade" sistemática. Na sua primeira exposição individual em
Paris, os resultados estão à vista: é um fracasso total, mesmo do ponto de
vista dos seus amigos. Renuncia a este estilo, regressando a uma figuração
precisa que serve melhor uma subversão inicialmente mental. É esta orientação
que segue até ao fim da vida, tanto nos quadros como nas decorações murais
que lhe são encomendadas (casino de Knokke-le-Zoute, 1953; Palácio das
Belas-Artes de Charleroi, 1957). A crescente notoriedade vale-lhe exposições
cada vez mais frequentes no mundo inteiro e, em 1967, inaugura-se uma
retrospectiva em Roterdão, pouco antes da sua morte. |